Ilha de São Miguel
A ilha de São Miguel, que com Santa Maria integra o Grupo Oriental, é a maior ilha do arquipélago (com 747 km2) e a mais populosa, com cerca de 56% da população dos Açores. O seu vulcanismo está associado, em termos gerais, a quatro grandes edifícios vulcânicos poligenéticos, siliciosos e com caldeira (Povoação, Furnas, Sete Cidades e Fogo) e por duas áreas de vulcanismo predominantemente basáltico, embora de idades diferentes.
Estas áreas basálticas definem os complexos vulcânicos do Nordeste, o mais antigo da ilha, e o dos Picos, o mais recente e que ocupa sensivelmente a área que se desenvolve entre a faixa Relva-Lagoa (na costa sul) e a faixa Capelas- Ribeira Seca (na costa norte). Cerca de 500 vulcões monogenéticos, 35 lagoas de diferentes dimensões e uma grande variedade de águas minerais e termais e fumarolas de diferentes tipos, completam a paleta da geodiversidade da ilha. Desde o início do povoamento ocorreram várias erupções na ilha, como a de 1563 (Vulcão do Fogo e Pico Queimado), a de 1630 (Vulcão das Furnas – a mais violenta e destrutiva nos Açores desde o século XV) e a de 1652 no Pico do Fogo (Complexo Vulcânico dos Picos). Para além destas, ocorreram também erupções submarinas ao largo da ilha, sendo a mais conhecida a da Ilha Sabrina, que se localizou ao largo da Ponta da Ferraria, em 1811.
Morro de Santa Bárbara
Este vulcão monogenético traquítico, constituído por formações pomíticas, está implantado na zona de transição entre as formações do Vulcão do Fogo, de que faz parte, e as formações basálticas do Complexo Vulcânico dos Picos. Este vulcão integra, ainda, o alinhamento tectónico NO-SE que define a fronteira poente do designado “Graben da Ribeira Grande”. Também designado como Morro de Rabo de Peixe, esta elevação está ladeada a oeste e a leste pelas praias de areia de Santana e de Santa Bárbara, respetivamente, esta última um conhecido spot de surf.
Antigo Fontanário
Este fontanário constitui uma memória viva da erupção do Pico Queimado (antes denominado de Pico do Sapateiro), que teve lugar em julho de 1563 e cujas escoadas lávicas basálticas soterraram parte da freguesia da Ribeira Seca, movimentando-se, depois, até ao mar. Descoberto na sequência de obras de escavação aqui realizadas, este antigo fontanário tem o seu tanque na posição primitiva e totalmente preenchido por lava, o que, associado à integridade da infraestrutura, demonstra a elevada fluidez e mobilidade dos derrames lávicos de 1563 do Pico Queimado.
Caldeiras da Ribeira Grande
O polo termal das Caldeiras da Ribeira Grande está associado a um importante campo fumarólico implantado nas vertentes norte do Vulcão do Fogo, onde há muito o Homem faz uso do calor geotérmico, quer para a confeção do tradicional “geo-cozido”, quer em balneário termal, para banhos e aplicações de lamas termais. Destaca-se aqui os “Banhos da Coroa”, balneário edificado em 1811 e que usa as lamas e águas existentes em tanque adjacente (construído para o efeito), que, além do bem-estar que proporcionam, têm utilização tradicional em patologias do foro reumatismal.
Campo Geotérmico
O campo geotérmico da Ribeira Grande, de configuração geral NO-SE controlada pelo graben da Ribeira Grande, desenvolve-se nos flancos norte do vulcão poligenético do Fogo. As duas centrais geotérmicas existentes exploram um reservatório geotérmico profundo de alta entalpia, com temperaturas máximas da ordem de 245°C e cujo topo se situa em média a cerca de 200 m abaixo do nível do mar. A produção de electricidade conjunta das duas centrais geotérmicas representou em 2020 cerca de 40% do total da energia eléctrica consumida na ilha de S. Miguel.
Vale das Lombadas
O Vale das Lombadas corresponde a um amplo vale fluvial, rodeado de vertentes escarpadas onde predominam espessos depósitos de pedra pomes de queda associados a erupções explosivas do vulcão central do Fogo. No leito e margens da Ribeira Grande, para além de lavas traquíticas e fragmentos de obsidiana, é frequente encontrar blocos de sienito (uma rocha magmática intrusiva, de origem profunda) que foram expelidos e depositados junto com a pedra pomes. Nesta área existem diversas nascentes de águas minerais gasocarbónicas, incluindo a afamada “Água das Lombadas”, outrora engarrafada.
Plantação de Chá
É nesta zona da ilha de S. Miguel - onde predominam terrenos pomíticos e de escoadas lávicas traquíticas - que existem atualmente as únicas plantações de chá da Europa para fins industriais. Iniciada no ano de 1878, e outrora presente em diversos locais do concelho da Ribeira Grande (como a Barrosa e Chá Canto), a transformação das folhas da planta Camellia sinensis em chá faz-se atualmente nas fábricas do Porto Formoso e da Gorreana, onde se produz chá verde e chá preto em diversas variedades, como os chás Hysson, Broken Leaf, Pekoe e Oolong.
Caldeira da Povoação
A Caldeira da Povoação é uma vasta depressão vulcânica aberta do lado sul, com um diâmetro médio de 6,4 km e paredes suavizadas pela ação da erosão, dada a sua idade. O fundo da caldeira é preenchido por ignimbritos, uma rocha vulcânica associada a escoadas piroclásticas emitidas durante erupções muito explosivas, com origem no vizinho Vulcão das Furnas. As diversas ribeiras que percorrem a depressão escavaram vales mais ou menos profundos, separados por extensos interflúvios bem marcados na paisagem e conhecidos como as “7 Lombas da Povoação”.
Deslizamento de 1630
O curso de água da Ribeira Quente, que desagua na freguesia com o mesmo nome, apresenta na sua parte final um vale encaixado, condicionado pela tectónica local. As altas e declivosas vertentes do vale e aquelas sobranceiras à freguesia apresentam cicatrizes de movimentos de massa diversos, como é o caso do deslizamento contemporâneo da erupção de 1630 no vulcão das Furnas, cuja cicatriz arqueada está bem visível no talude sobranceiro à Praia do Fogo. Recente datação 14C de troncos de árvore arrastados pelo movimento de massa confirmaram a idade centenária deste deslizamento.
Serra Devassa
A cordilheira vulcânica da Serra Devassa desenvolve-se para sudeste da caldeira do vulcão das Sete Cidades e é composta por diversos alinhamentos de vulcões monogenéticos (sobretudo cones de escórias) e estruturas tectónicas associadas, de orientação geral NO-SE. Esta zona de vulcanismo basáltico integra cerca de 15 pequenas lagoas, localizadas sobretudo em crateras de cones de escórias (como as Lagoas Empadadas), mas também em formas hidrovulcânicas (caso da Lagoa do Canário), ou ocupando zonas topograficamente deprimidas, como é o caso das lagoas do Carvão e Rasa.
Fajã Lávica dos Mosteiros
Esta fajã lávica foi formada pelas escoadas lávicas basálticas emitidas do cone de escórias do Pico de Mafra, que avançaram mar dentro, aumentando a área da ilha e formando o seu extremo ocidental. Nos Mosteiros existe uma praia de areia negra e diversas piscinas naturais nas pontas rochosas da fajã. Ao largo, observam-se “cordões lávicos litorais” e há um importante campo fumarólico submarino. Os Ilhéus dos Mosteiros constituem os resquícios de um vulcão submarino (um cone de tufos surtseianos), atualmente muito desmantelado pela erosão marinha.
Lagoa do Congro
As Lagoas do Congro e dos Nenúfares ocupam a base de uma cratera de explosão do tipo maar, com 500 m de diâmetro. Esta depressão vulcânica, com paredes escarpadas e talhadas em basaltos e traquitos, apresenta desníveis da ordem de 120 m do lado nordeste. Esta cratera, localizada no Planalto da Achada das Furnas (uma zona de vulcanismo fissural basáltico entre os vulcões centrais do Fogo e das Furnas), formou-se há cerca de 3.800 anos na sequência de uma erupção hidrovulcânica, na qual houve interação do magma em ascensão com águas superficiais ou com águas subterrâneas/aquíferos envolventes.
Fajã Lávica da Caloura
A Caloura ocupa uma extensa fajã lávica formada há cerca de 3.500 anos, constituída por escoadas basálticas emitidas do cone de escórias Monte Santo e de cones vulcânicos adjacentes. A arriba fóssil resultante pode ser observada na zona do porto da Caloura-Miradouro do Pisão, do lado nascente da fajã (onde afloram espessas escoadas traquíticas) e na zona da Baixa da Areia, do lado oeste da fajã lávica. O litoral da fajã apresenta-se muito recortado, com enseadas, baías pouco profundas, poças de águas límpidas, pontas rochosas, rochedos isolados e grutas litorais e submarinas.
Ilhéu de São Roque
O Ilhéu de São Roque corresponde aos resquícios de um cone de tufos surtseianos, formado na sequência de uma erupção submarina de natureza basáltica. A configuração dos atuais resquícios do cone e a disposição e inclinação dos seus estratos/camadas, permitem inferir a existência de uma antiga cratera com cerca de 450 m de diâmetro, desenvolvendo-se para leste do cone atual. O ilhéu é rodeado, a norte e a poente, por escoadas lávicas basálticas, mais recentes e provenientes de centro eruptivo implantado no interior da ilha, que exibem morfologias pahoehoe típicas (do tipo lajido) do lado poente.
Caldeira das Sete Cidades
Esta depressão instalada no topo do vulcão poligenético das Sete Cidades tem um contorno quase circular, diâmetro médio de 5,3 km e profundidade da ordem de 630 m. Constitui uma caldeira vulcânica de colapso (ou subsidência), que se formou na sequência de erupções muito explosivas, com a produção abundante de pedra pomes. No seu interior ocorreram várias erupções, como as que formaram os cones da Caldeira Seca, Caldeira do Alferes e Seara. Alguns destes vulcões secundários intra-caldeira possuem uma pequena lagoa na sua cratera, como é o caso da Lagoa Rasa e da Lagoa de Santiago
Morro das Capelas
Trata-se de um vulcão submarino de natureza basáltica, cuja atividade vulcânica associada (em águas pouco profundas) formou um cone de tufos surtseianos, que cresceu e se uniu às altas arribas da costa norte da ilha, formando uma península junto à freguesia de Capelas. Junto com o vulcão do Rosto do Cão, constituem os únicos cones submarinos que integram o Complexo Vulcânico dos Picos. Parcialmente erodido pela ação do mar, este cone apresenta falésias altas e muito escarpadas, diversas golas (fendas) e grutas litorais, visitáveis de barco em dias de mar calmo.
Moldes Lávicos de Árvores
Os moldes lávicos de árvores são estruturas mais ou menos cilíndricas presentes em escoadas lávicas fluidas do tipo pahoehoe, que preservam a textura externa de troncos e ramos de árvores que foram derrubados, incorporados no seio da escoada e incinerados. No caso de lavas muito fluidas, estas podem penetrar nas fendas abertas na madeira queimada, originando um reticulado lávico similar a favos de mel. Nas escoadas pahoehoe nesta zona do Parque Urbano de Ponta Delgada observam-se vários moldes lávicos de árvores, testemunho de uma antiga floresta existente no local, e está reportada a presença de pequenos túneis lávicos.
Ignimbrito
A Igreja Matriz de Vila Franca do Campo, com uma arquitetura de formas góticas do século XV, apresenta uma esplendorosa fachada principal (incluindo a torre sineira) em ignimbrito à vista, uma pedra de cantaria de origem vulcânica outrora muito usada na construção de igrejas, conventos, solares e muitos outros edifícios na ilha. Reconstruída após o violento sismo que, em outubro de 1522, arrasou Vila Franca do Campo, esta igreja apresenta, ainda, na parede sul da torre sineira, uma marca deixada pelo impacto de um projétil de artilharia, a que está associada a data de “1624”
Disjunção Esferoidal
O miradouro do Salto da Farinha oferece excelentes panorâmicas das altas e escarpadas arribas da costa norte da ilha de São Miguel, bem como do troço final da Ribeira das Coelhas, incluindo da sua queda de água com cerca de 40 m de altura. Particularmente relevante é a disjunção esferoidal (ou em bolas) e as zonas arenizadas que os basaltos que aqui afloram exibem - aspetos típicos de escoadas lávicas basálticas antigas e muito alteradas – bem como as escórias basálticas soldadas, de cor avermelhada, utilizadas nos muros e outras construções desta área de lazer