Ilha do Pico
A ilha do Pico apresenta o ponto mais alto de Portugal, com 2350 m. É a ilha mais jovem do arquipélago e possui apenas vulcanismo de natureza basáltica s.l., quer nas formações da Montanha do Pico (estratovulcão com 3500 m de altura relativamente aos fundos marinhos envolventes), quer do vulcão em escudo do Topo, quer, ainda, na cordilheira vulcânica do Planalto da Achada, constituída por cerca de 190 centros eruptivos.
Desde o povoamento ocorreram erupções históricas, em 1562/64 (Mistério da Prainha), 1718 (Mistérios de Sta. Luzia e de S. João e submarina a sul da ilha) e 1720 (Mistério da Silveira). A última erupção ocorreu em 1963, ao largo da ilha, a Norte de Cachorro, segundo uma erupção submarina do tipo “serretiano”.
Arriba Fóssil
Entre Santo António e São Roque do Pico desenvolve-se uma arriba fóssil, sob a forma de uma vertente rochosa quase vertical, que marca a antiga linha de costa da ilha do Pico e que se estende por cerca de 4,5 km. Esta antiga falésia costeira foi galgada, e coberta, em vários locais por escoadas lávicas basálticas mais recentes, por vezes segundo escoadas pahoehoe muito fluidas vindas do vulcão da Montanha do Pico, que originaram espetaculares cascatas de lava, como se observa nas zonas do Ginjal (a oeste) e da Furna/Parque de Campismo.
Moldes Lávicos de Árvores
Os moldes lávicos de árvores são estruturas mais ou menos cilíndricas presentes em escoadas lávicas fluidas do tipo pahoehoe, que preservam a textura externa de troncos e ramos de árvores que foram derrubados, incorporados no seio da escoada e incinerados. No caso de lavas muito fluidas, estas podem penetrar nas fendas abertas na madeira queimada, originando um reticulado lávico similar a favos de mel. As escoadas pahoehoe (”lajidos”) aqui existentes, com vários moldes lávicos de árvores, recobrem escoadas aa, de superfície irregular, angulosa e muito fragmentada, isto é, de clinker.
Mistério da Prainha
Com origem nos Cabeços do Mistério, a uma cota aproximada de 800 m, as escoadas lávicas basálticas do tipo pahoehoe do Mistério da Praínha estão associadas à erupção histórica de 1562/64, a primeira reportada para a ilha do Pico e a erupção vulcânica mais duradoira da história dos Açores. Estas escoadas movimentaram-se para sudoeste e para nordeste, estas últimas por uma distância de cerca de 3,5 km até atingirem a linha de costa, onde galgaram a arriba, espraiaram-se na sua base e formaram o delta lávico (ou fajã lávica, no léxico regional) da Ponta do Mistério.
Bomba da Prainha
A designada “Bomba da Praínha” corresponde, na realidade, a uma bola lávica de acreção de grandes dimensões, com 3,5 m de altura e perímetro de 10,8 m. Assim, ao contrário da sua designação, a “Bomba da Praínha” não está associada a qualquer atividade vulcânica explosiva, mas sim a um fragmento/bloco de lava, que “flutuando” e rolando no topo de uma escoada lávica aa, aumentou progressivamente de tamanho. Esta bola lávica de acreção integra escoadas lávicas basálticas emitidas de um cone de escórias localizado a oeste do vértice geodésico “Caveiro”, com uma idade máxima estimada de cerca de 5.000 anos.
Cratera Poço
As crateras de colapso do tipo cratera-poço (pit crater) são peculiares formas vulcânicas presentes quase exclusivamente na ilha do Pico, estando associadas a colapsos da superfície do terreno na sequência de uma movimentação do magma a níveis profundos. Na região do Cabeço dos Sardos - Caldeira, a norte do povoado de Ribeira Grande e em plena zona axial da cordilheira vulcânica do Planalto da Achada, estão presentes quatro crateras poço, incluindo a da Lagoa Negra. Estas crateras, em conjunto com os cones de escórias basálticas, definem um nítido alinhamento vulcano-tectónico, de orientação geral ONO-ESE.
Ponta da Ilha
A Ponta da Ilha corresponde à extremidade oriental da ilha do Pico, e da zona de vulcanismo fissural do Planalto da Achada, e integra diversos cones de escórias e respetivas escoadas lávicas basálticas, que fluíram até ao mar. Estas escoadas, do tipo lajido (ou pahoehoe), têm estruturas típicas dessas escoadas muito fluidas, como é o caso de lavas encordoadas, tumuli e cristas de pressão. Destaca-se, ainda, o Farol da Ponta da Ilha e o cone de escórias do Castelete, o qual constitui uma kipuka, ou seja, uma “ilha” totalmente envolvida pelas escoadas lávicas do Cabeço da Hera.
Fajã Lávica Ribeiras
Esta fajã formou-se sobretudo por escoadas lávicas emitidas, há cerca de 3.500 anos, de diversas bocas eruptivas localizadas a montante do lugar de Caminho de Cima, as quais definem uma fissura eruptiva de orientação geral NE-SO. Essas escoadas basálticas galgaram a antiga falésia costeira, fazendo crescer a ilha do Pico para sul e formando este delta lávico, e a arriba fóssil associada. Do miradouro da Vigia, em Terras, junto à estrada regional e sobranceiro à escarpa de falha do Arrife, tem-se uma boa panorâmica deste geossítio e zonas adjacentes.
Lajidos
O termo “lajido” atribui-se a campos lávicos de superfície suave, regular, aplanada ou ligeiramente ondulada, sendo, pois, sinónimo de escoadas lávicas do tipo pahoehoe. É o caso dos Lajidos da Criação Velha, um campo de escoadas lávicas basálticas, de idade inferior a 2.000 anos, onde é possível encontrar várias formas e micro-relevos típicos destes lajidos, como tumuli, lavas encordoadas e cristas, valas e grutas lávicas, como a Gruta das Torres. Por outro lado, os currais de vinha e as relheiras são elementos geoculturais típicos destas geopaisagens.
Jardim dos Maroiços
O termo “maroiço” designa um amontoado de pedras soltas muitas vezes em forma de pirâmide (com pedras maiores na base e nas paredes laterais e mais pequenas na parte interna e superior) que resultou da limpeza dos terrenos ao longo dos séculos, para obter terra arável ao cultivo e sustento do Homem do Pico. Presentes sobretudo na parte oeste do concelho de Madalena, atingem comprimentos de 10 a 20 m e alturas de 6 a 13 m e, ao contrário das relheiras (que estão em lavas do tipo lajido/pahoehoe), os maroiços estão edificados em campos de escoadas lávicas aa.
Crista de Pressão
As cristas de pressão são arqueamentos da crosta superficial das escoadas lávicas do tipo pahoehoe, segundo elevações alongadas originadas pela pressão hidrostática exercida no topo da escoada pela movimentação inferior da lava ainda líquida (segundo um rio de lava subterrâneo). Se a curvatura for muito acentuada, o topo da crista de pressão tende a partir e a apresentar uma fenda longitudinal. No litoral norte da ilha do Pico (próximo do cone de tufos do Cabeço Debaixo da Rocha) observa-se um micro-relevo deste tipo, o mais importante dos Açores, com cerca de 100 m de extensão.
Mistério da Silveira
O Mistério da Silveira corresponde às escoadas lávicas basálticas do tipo aa produzidas durante a erupção que se iniciou a 10 de julho de 1720, após várias semanas de sismos sentidos pela população. A erupção vulcânica terminou a 18 de dezembro do mesmo ano, cobrindo uma área de 4,6 km2 na parte sul da ilha, a oeste da vila das Lajes do Pico, para onde a população fugiu atempadamente. O centro emissor de 1720 corresponde a um cone de escórias situado a uma cota de cerca de 350 m, o Cabeço do Fogo, com 3 crateras de explosão principais no topo, dispostas segundo uma direção geral ONO-ESE.
Mistério de São João
O Mistério de São João corresponde às escoadas lávicas basálticas do tipo aa produzidas durante a erupção que se iniciou a 2 de fevereiro de 1718, antecedida por diversos sismos e a abertura de numerosas fendas no terreno entre as freguesias de São Mateus e São João. A erupção vulcânica terminou em janeiro de 1719, formando uma saliência na linha de costa sul da ilha do Pico entre os lugares de Terra do Pão e Companhia de Cima, e cobrindo uma área de 2,2 km2. O centro emissor desta erupção corresponde ao cone de escórias do Cabeço de Cima, a uma cota de cerca de 250 m.
Mistério de Santa Luzia
Esta erupção histórica iniciou-se a 1 de fevereiro de 1718, antecedida de fortes sismos. O seu centro emissor, a Lomba de Fogo, desenvolve-se desde os 850 m até 1.250 m de altitude, segundo uma crista piroclástica composta por pequenos cones de escórias coalescentes e 7 crateras de explosão alinhadas segundo NO-SE. As escoadas lávicas emitidas desceram as encostas da Montanha do Pico, percorrendo cerca de 9 km até atingir o mar entre o porto do Cachorro e o Lajido de Santa Luzia e cobriram uma área de 8,6 km2, embora apenas destruindo terrenos de vinha e algumas adegas.
Hornitos
Na paisagem desta zona da ilha do Pico destaca-se a presença de um alinhamento de três pequenos cones vulcânicos do tipo hornito, que estão sobrepostos à Furna de Frei Matias. Os hornitos são assim designados por não possuírem uma raiz ou conduta profunda, sendo, então, o resultado de pequenas explosões no topo das escoadas lávicas. Essa gruta lávica, com uma extensão de cerca de 920 m nos seus quatro troços cartografados, é, porventura, a cavidade vulcânica mais popular da ilha, referenciada como tendo servido de abrigo a um ermitão.